GUIRLANDA DO EXERCÍCIO POÉTICO
Verso a verso,
ponto a ponto...
cada poema,
um encontro.
Não importa
a metáfora,
pois nascem
mais liras em cada etapa.
Felicidade
rima com a vontade
de versejar
com liberdade.
Um ano findando,
outro já já chegando...
Seguimos nas imagens,
sorrindo e brindando.
JULENI ANDRADE

sábado, 25 de dezembro de 2010
segunda-feira, 15 de novembro de 2010
O FAROL
Depurava alguns sentimentos enquanto observa o farol aceso. Já era bem tarde e o silêncio era quebrado pelo vento no bambuzal. Aqui, todos dormiam tranquilamente. Pernilongos nem passarinhos, por conta dos eucaliptos.
A casa era espaçosa e arejada, as janelas e as portas largas, paredes brancas, móveis rústicos. Fruto de muito trabalho.
A melancolia visita-me regularmente, parece querer casar comigo. À noite fujo da minha mulher, ela é muito severa e tem ciúmes da minha nostalgia. Pouco sabe dos meus pensamentos, nunca soube. Então, naquela noite depois de vê-la adormecida - ela ainda conserva-se bela - fuji para a varanda. O farol era um ponto de referência no breu.
Já com meus mais de setenta anos, tenho marcas irreversíveis. Os sulcos da pele flácida, a alma ferida pelas decepções, calos nas mãos e nos pés, manchas pelo corpo, dentes a menos. Cabelos ralos, brancos, finos e curtos. A orelha crescida demais e audição de menos. Óculos mais grossos e fala mais mansa. O peito dolorido pela angina e pela amargura. Estômago fraco e pernas bambas. Mas os sentimentos cada vez mais imponentes.
Sentado no banco de tábua corrida, perto do vaso de camarões amarelos, junto ao coqueirinho meio seco... ali, só eu e aquele farol. Minto. Eu, o cigarro, o cinzeiro cheio, os vasos de Madalena, a tosse e o farol.
Aquela luz toda era um aparo.
Olhei durante um tempo para o iluminador. Senti queimar nos olhos. Foi assim que decidi dá o salto.
Levantei apoiado por uma bengala. Andei até o portãozinho de ferro, abrindo bem devagar. Aí pelo jardim até o portão de entrada e saí caminhando na estrada até ao farol. Lá chegando, com muita dificuldade, subi os oito primeiros degraus de acesso ao farol.
Há alguma coisa que sempre acontece comigo e aconteceu naquela hora: a fraqueza.
Com vocês devem saber, não fui capaz de subir ao farol; não fui capaz de morrer naquela noite; não fui capaz de explicar para Madalena o motivo de ter dormido fora de casa.
JULENI ANDRADE
A casa era espaçosa e arejada, as janelas e as portas largas, paredes brancas, móveis rústicos. Fruto de muito trabalho.
A melancolia visita-me regularmente, parece querer casar comigo. À noite fujo da minha mulher, ela é muito severa e tem ciúmes da minha nostalgia. Pouco sabe dos meus pensamentos, nunca soube. Então, naquela noite depois de vê-la adormecida - ela ainda conserva-se bela - fuji para a varanda. O farol era um ponto de referência no breu.
Já com meus mais de setenta anos, tenho marcas irreversíveis. Os sulcos da pele flácida, a alma ferida pelas decepções, calos nas mãos e nos pés, manchas pelo corpo, dentes a menos. Cabelos ralos, brancos, finos e curtos. A orelha crescida demais e audição de menos. Óculos mais grossos e fala mais mansa. O peito dolorido pela angina e pela amargura. Estômago fraco e pernas bambas. Mas os sentimentos cada vez mais imponentes.
Sentado no banco de tábua corrida, perto do vaso de camarões amarelos, junto ao coqueirinho meio seco... ali, só eu e aquele farol. Minto. Eu, o cigarro, o cinzeiro cheio, os vasos de Madalena, a tosse e o farol.
Aquela luz toda era um aparo.
Olhei durante um tempo para o iluminador. Senti queimar nos olhos. Foi assim que decidi dá o salto.
Levantei apoiado por uma bengala. Andei até o portãozinho de ferro, abrindo bem devagar. Aí pelo jardim até o portão de entrada e saí caminhando na estrada até ao farol. Lá chegando, com muita dificuldade, subi os oito primeiros degraus de acesso ao farol.
Há alguma coisa que sempre acontece comigo e aconteceu naquela hora: a fraqueza.
Com vocês devem saber, não fui capaz de subir ao farol; não fui capaz de morrer naquela noite; não fui capaz de explicar para Madalena o motivo de ter dormido fora de casa.
JULENI ANDRADE
quarta-feira, 10 de novembro de 2010
PERCEBO-ME FRÁGIL
Daqui, eu que sou manso, posso avistar os sinais da guerra. Tenho um rosto amável, porém a imagem dilacera qualquer sorriso. Vejo a multidão aproximando, em meio aos poucos automóveis que tentam andar. Meu corpo franzino não é apropriado para ir à luta, tenho mãos frágeis e pernas finas.
O céu nublado dá o tom do contexto.
Rua apertada, com paralelepípedos irregulares, calçadas estreitas, meios fios caiados. As fachadas das casas velhas têm pinturas desgastadas pelo tempo e o desleixo. Como meus cabelos embranquecidos, porém amarelados pela falta de trato.
A tarde é quente e úmida e eu febril.
Do alpendre, vejo o cortejo alvoroçado. Em mim não há alvoroço, sou velho demais para tais emoções. O povo grita por justiça, esboço um pensamento de apoio, esqueço logo. Sempre acho estranho o agrupamento de desiguais em causa una. Talvez, seja minha experiência sobre aglutinações.
Um vento fraco sopra em minha cara, sinto o cheiro de flores.
Minha visão não é a mesma de alguns anos, não reconheço rostos à distância. Então, temendo ao que está no porvir das horas, resolvo entrar em casa e trancar a porta. Sei que haverá sangue, sei do perigo, sei que a justiça não virá.
JULENI ANDRADE
REENCONTRO MARCADO
Recebi gens de guerreiros. Tenho olhos de um negro bem agudo, supercílios espessos e boca proporcional ao rosto magro e triangular. Posso dizer que meu nariz é italiano como o do meu avô fascista. Já minhas mãos são compridas, herdadas do outro avô pianista.
Estou sentado em um banco da praça central desta cidadezinha pequena. Tudo aqui é muito familiar, menos o chafariz recém inaugurado. O chão é de pedra e há algumas graminhas entre elas. Daqui vejo o portão da escola, é igual como estava há cinco anos.
Meus pés magros, dentro do italiano legítimo, suam. Enxugo a testa pela milésima vez, o lenço não suporta mais tanto suor. Trago a fumaça do último cigarro da carteira, o relógio parece sem pressa.
O portão da escola, fechado, parece ser uma esfinge guardando o prédio do século dezenove. Decifrá-lo não sou capaz, nunca fui.
Preciso conter a ansiedade sentida. Esperar a hora exata, certeira do adentrar. Minha boca, em uma secura extrema, auxilia minha respiração. O ar está fortemente pesado, eu estou agitado por dentro. Nenhuma alma chega ao portão e o sino não toca.
JULENI ANDRADE
SOLILÓQUIO EVENTUAL
Num sei não, sinhô dotô. Sou fio do chão e sem teto. Dessi jeito me amperto, conforme deus mandô. Aconseio minhas fias a cuidá bem das crias, com carim, comida, consei e amô.
É muita falação, conversa pra boi drumi, genti qui veve a fingir qui gosta de nóis daqui.
Sabemo que genti di posse num tem pena de quem veve com renda pequena.
Saí cedo da iscola, pra modi cuidá da lida. Sei qui saco vazi num para impé. Num é vida isculida, num é qui a genti qué.
Semo trabaiadô. Sonho in vê meus neto com us istudo compreto, inté virado dotô.
Num é o qui o sinhô deseja, tem medo da peleja na hora di cumpeti. Intão, chama nóis de cego. Achu graça, num nego.
Mais num fica aperriado, o sór bate na cara di todos.Quando se acostumá com nossa cara
sentada na merma sala que vossa celênça, Vai vê qui nossa genti é tão intiligente
como os fio do sinhô. Daí seremo tudo irmão, como deus nosso pai insinô.
Agora dá licença, num posso ficá proseando. Cês chama nóis de vagabundo, mas a hora tá passando, o trabai ta misperando e a condução é a canela. Inté mais vê. Num sisqueça duma coisa, somo tudo brasilero. Nem pricisa falá nada, podi ri da minha cara, seus fi e o sinhô.
JULENI ANDRADE
quinta-feira, 23 de setembro de 2010
APARTADA
Longe de tudo, de todos,
de mim...
Reino, absoluta,
presa à vida recriada na cela.
Ensaio um cântico de louvor
ao silêncio que espanta
qualquer lei.
Sei que sou apenas eu:
um rascunho do que serei.
JULENI ANDRADE
sábado, 18 de setembro de 2010
ILUSÕES
Voavam por um azul belíssimo...
Eram dias amáveis,
bordados ,
cantados.
Sorrisos acariciavam o tempo
firme.
Repentinamente...
Foram assaltados
pela realidade.
JULENI ANDRADE
quarta-feira, 15 de setembro de 2010
FALTAM-ME VERSOS
“Triste é não ter um verso maior que os literários,
é não compor um verso novo, desorbitado,
para envolver tua efígie lunar, ó quiméra
que sobes do chão batido e da relva pobre.”
(Carlos Drummond de Andrade: CONTEMPLAÇÃO NO BANCO, em Claro Enigma)
FALTAM-ME VERSOS
Claro,
como o sol que invade a face
ou uma delas...
Belas imagens
contidas nas velas ao vento
do tempo quase lento,
quase ligeiro,
passageiro.
Porém sobram coisas,
faltam-me versos...
para que eu
fale do seu
Claro Enigma.
JULENI ANDRADE
é não compor um verso novo, desorbitado,
para envolver tua efígie lunar, ó quiméra
que sobes do chão batido e da relva pobre.”
(Carlos Drummond de Andrade: CONTEMPLAÇÃO NO BANCO, em Claro Enigma)
FALTAM-ME VERSOS
Claro,
como o sol que invade a face
ou uma delas...
Belas imagens
contidas nas velas ao vento
do tempo quase lento,
quase ligeiro,
passageiro.
Porém sobram coisas,
faltam-me versos...
para que eu
fale do seu
Claro Enigma.
JULENI ANDRADE
domingo, 22 de agosto de 2010
PRÓPRIAS PALAVRAS
Penso
nas amarras da língua.
Meu pensar submerge
nas entranhas do falar.
Gestos mordem o pensar...
Olhares perturbam.
Páginas virão...
umas sem lógica, logicamente.
Penso, analiso,
reflito, concluo,
escolho sentenças,
agrupo palavras
dentro da cabeça.
Depois jorram algumas
Idéias,
chovem rascunhos
de próprio punho.
Com o tempo, nascem esquemas,
versos, prosas, notas...
JULENI ANDRADE
segunda-feira, 2 de agosto de 2010
AMPAROS
Somos nus...
temos vivas as entranhas,
temos o medo à flor da pele,
pelos poros saltam as coragens.
Somos nus...
fortificados pelos ventos bons,
fragilizados pelos atrevidos
maus fluídos.
Somos nus...
não escondemo-nos em máscaras frias,
não pretendemos a fuga,
temos o peito aberto às flechas.
Em cada abraço resgastamos
o mais íntimo e profano
dos amparos necessários.
JULENI ANDRADE
A BELEZA DO POEMA
Verso, nascido de uma ausência,
faz-se presente forte.
E...
a dolorida permanência,
externando os sentires
de quem quase morre por amor...
sofre e chora em cada estrofe.
O ritmo pode ser
da melodiosa tentação
de enfrentar, com ou sem rimas,
a amargura do desamor.
De todos poemas,
o mais belo
não é o que escrevem com zelo.
Mas, sim os que chegam
ao leitor, em sua mente...
como parte integrante de seus íntimos
suspiros, delírios e pensares.
JULENI ANDRADE
quinta-feira, 29 de julho de 2010
ARRASTO
Trago da partida restos de sorrisos brandos,
um lenço que serviu para o aceno na despedida,
sais de algumas lágrimas surgidas da emoção.
De lá para cá, compreendi minha condição.
Sou andante de uma trilha traçada aos berros,
um trajeto construído como parte do acordado.
Não rasguei nenhum sonho, eles vieram na bagagem...
são como miragens nas areias dos desertos noturnos.
Eu faço juras de realizações quando anoitece no meu rosto.
Quando acordo reviro as latas, numa busca desesperada
por migalhas de auroras de outrora.
Com o descortinar dos dias aprendo sonhar com moderação,
dirigir com atenção, não beber tanta fantasia,viver regando os jardins.
Mas... não esquecer de alimentar a famigerada
realidade arregalada bem em frente ao meu nariz.
Escolho cada uma das minhas ilusões e com muito cuidado.
Algumas não se dão bem com verdades nuas.
Os mais antigos soluços levo para banhos de sol,
quando é possível.
Os suspiros gostam dos dias iluminados,
eles lembram da tenra flor da juventude...
aquela mais bela e graciosa, que só vejo nas fotos
e no deslocamento impulsivo
dos raios custumizados na mente.
Arrasto.. num rumo inevitável.
Como se as lanças transmissoras de energia vital
soprassem um bafo em minhas evidências
de passado, presente e futuro.
JULENI ANDRADE
sábado, 10 de julho de 2010
MEDIA TRAINING DO SILÊNCIO
Assim, imagem não é necessariamente a realidade,
mas sim o que é mostrado e o que a pessoa vê.
(Ferreira)
É mais que grito, susto aflito,
é fraco de tão forte.
Corta raízes e planta nuvens,
abre alas com alegorias flutuantes...
sob a cor vibrante de um pingo de instante.
Cala quando fala de morte, sorte e dor,
fala de amor, sonhos e vida, fita e fio,
mãe, sabor, desejo e filho.
Nega o que vê e desdenha o medo.
Esconde temor, colhe chuva nas areias dos olhos.
Cega, enxerga, morre e nasce no silêncio assustador.
Levanta as asas abertas pelo sopro do autor.
É mais que grito,
é criação da imagem de todo silêncio.
JULENI ANDRADE
terça-feira, 29 de junho de 2010
DENODO
Quanto ao nojo,
ele vinha das entranhas
como um emblemático sinal amarelo.
Era hora de orar aos deuses,
aos santos, anjos ou sei lá.
Em toda minha pele, nervos em flor.
Doía-me o coração oscilando.
Arranquei, do fundo, a coragem magra.
Limpei os olhos, molhei os lábios,
mordi aquele medo... com toda força.
JULENI ANDRADE
domingo, 30 de maio de 2010
ENTRE OUTRAS COISINHAS
Cafeína
Padaria
Margarina
Ônibus
Buzina
Esquina
Trabalho
Almoço
Guardanapo
Cafeína
Ônibus
Buzina
Esquina
Casa
Chuveiro
Travesseiro
Sonho
JULENI ANDRADE
domingo, 9 de maio de 2010
PELO AMOR DAQUELA MULHER
*****************************
Nascer?
É! Nascer, sair para o mundo,
desabrochar do interior
daquela mulher.
*
Ela enfrenta
náuseas, peso, alguns desconfortos...
A gente nadando,
crescendo, maturando.
*
Ela, em festa...
dolorida, mas em festa,
recebe com muito carinho.
*
Cuida desde semente,
rega com ternura,
prepara o ninho,
aguarda ansiosa...
*
Toda prosa, mostra a cria
(esquece até as estrias),
amamenta,
cobre de elogios
mesmo depois de uma noite
em alerta.
*
Crescer?
É! Crescemos, ganhamos o mundo,
desfolhamos histórias,
fazemos escolhas,
voamos...
*
Ela enfrenta a síndrome
do ninho vazio, a falta do anjinho
que de suas entranhas
brotou.
*
Agradecer?
É! Agradecer é necessário,
pela vida, pelo amor
daquela mulher.
**************
JULENI ANDRADE
segunda-feira, 3 de maio de 2010
TORTURANTE
Retorcida à noite inteira,
sem tocar de sinos...
Goteira molha a cabeceira,
vozes frias esquentam a esquina.
Na rua de cima gritos ardem,
janela fechada,
fachada crua.
Chuva esconde loucuras...
Ao travesseiro, lágrimas entornadas.
No muro, o limo esconde o azul.
A lua finge ser brejeira.
Há crateras também na rua.
Nua, a lua, insensível cala-se.
Nenhuma fala quebra o gelo,
nenhum apelo com palavras.
O quarto treme de medo,
o escuro esconde a tortura.
Amanhecer é preciso...
para espantar os grilos
que moram naquela cabeça.
JULENI ANDRADE
ILUSTRADO SENHOR
Na solidez do discurso
diretíssimo,
imponente postura célebre,
construiu imagem dura
que perdura por tempos e tempos.
Mesmo sendo abrangente a estrada,
é sempre o mesmo caminhante.
Não muda seus costumes
por nada.
Tem espírito erudito,
fala bem entalhada.
Só falta,
em seu existir,
uma estátua na praça
JULENI ANDRADE
quinta-feira, 21 de janeiro de 2010
PORTA ABERTA
Poesia...
palavras em dança,
dança de magia.
Assim...
a porta abria.
Toda inspiração
guia
os passos, as alegorias...
Voa a poesia.
Nova dimensão
é cria
da nova ordem
que inicia...
Ordem:
sentido e direção.
Não amarras!
Não prisão!
Adentre
poeta e, sonhe...
imprima seu olhar,
seu nome.
Poesia...
flui no portal...
feito um sopro
de musa imortal.
:::><:::
Juleni Andrade
sábado, 16 de janeiro de 2010
sexta-feira, 8 de janeiro de 2010
quinta-feira, 7 de janeiro de 2010
TRISTE LIBERDADE
Hoje o canto é oco!
Ao soar de sinos,
nos desatinos
de um pássaro
sem prisão.
Livre canto
de pássaro
pequeno...
sem ninho.
Asas abertas...
num voar desengonçado.
sem amarras,
sem jardim.
Espera a canção
ganhar gana...
deita na grama,
beberica
da água que pinga
dos olhos azuis.
JULENI ANDRADE
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