quarta-feira, 10 de novembro de 2010

REENCONTRO MARCADO






Recebi gens de guerreiros. Tenho olhos de um negro bem agudo, supercílios espessos e boca proporcional ao rosto magro e triangular. Posso dizer que meu nariz é italiano como o do meu avô fascista. Já minhas mãos são compridas, herdadas do outro avô pianista.



Estou sentado em um banco da praça central desta cidadezinha pequena. Tudo aqui é muito familiar, menos o chafariz recém inaugurado. O chão é de pedra e há algumas graminhas entre elas. Daqui vejo o portão da escola, é igual como estava há cinco anos.



Meus pés magros, dentro do italiano legítimo, suam. Enxugo a testa pela milésima vez, o lenço não suporta mais tanto suor. Trago a fumaça do último cigarro da carteira, o relógio parece sem pressa.



O portão da escola, fechado, parece ser uma esfinge guardando o prédio do século dezenove. Decifrá-lo não sou capaz, nunca fui.



Preciso conter a ansiedade sentida. Esperar a hora exata, certeira do adentrar. Minha boca, em uma secura extrema, auxilia minha respiração. O ar está fortemente pesado, eu estou agitado por dentro. Nenhuma alma chega ao portão e o sino não toca.





JULENI ANDRADE

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