
quarta-feira, 10 de novembro de 2010
PERCEBO-ME FRÁGIL
Daqui, eu que sou manso, posso avistar os sinais da guerra. Tenho um rosto amável, porém a imagem dilacera qualquer sorriso. Vejo a multidão aproximando, em meio aos poucos automóveis que tentam andar. Meu corpo franzino não é apropriado para ir à luta, tenho mãos frágeis e pernas finas.
O céu nublado dá o tom do contexto.
Rua apertada, com paralelepípedos irregulares, calçadas estreitas, meios fios caiados. As fachadas das casas velhas têm pinturas desgastadas pelo tempo e o desleixo. Como meus cabelos embranquecidos, porém amarelados pela falta de trato.
A tarde é quente e úmida e eu febril.
Do alpendre, vejo o cortejo alvoroçado. Em mim não há alvoroço, sou velho demais para tais emoções. O povo grita por justiça, esboço um pensamento de apoio, esqueço logo. Sempre acho estranho o agrupamento de desiguais em causa una. Talvez, seja minha experiência sobre aglutinações.
Um vento fraco sopra em minha cara, sinto o cheiro de flores.
Minha visão não é a mesma de alguns anos, não reconheço rostos à distância. Então, temendo ao que está no porvir das horas, resolvo entrar em casa e trancar a porta. Sei que haverá sangue, sei do perigo, sei que a justiça não virá.
JULENI ANDRADE
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